sábado, 12 de maio de 2012

Madrinha Véia: uma Mãe aqui na Terra!

Êta Mulher de Coragem!   
         Vivia cochilando.
          Era parteira.
       Por todo canto as pessoas buscavam Ela, que ganhava alguns agrados pelos partos que fazia. Era morena alta, viúva. Andava quebrando mamona regateira para fazer azeite. Ela indicava uma colherzinha do azeite dessa mamona para limpar o intestino e também para hidratar os umedecer o umbigo das crianças até cair, diz Tia Violeta casada com Belizário Carlos, Juiz de Paz da pequena Comunidade de Caçarema, neto de Madrinha Véia.  
         Madrinha Véia?

         Foi uma Mãe aqui na Terra. Deitávamos e acordávamos como gente batendo na porta gritando:   - Madrinha Véia, ô Madrinha Véia!
         Madrinha Véia pulava da cama e alguém lhe dizia:  É fulano que vai ganhar menino!
        Ela corria feito doida para aparar o menino. Era sua missão aparar menino, que cumpriu até quando aguentou,  além de cuidar dos mais de 10 filhos e muitos netos. Morrei com 90 e poucos anos, diz Sônia neta de Dona Jovita.
  
          Madrinha Véia foi Jovita  Gomes Pedrosa de Brito casada com Neco Gomes de Brito, neta de Teodora Gomes de Brito e de Antônio Ferreira de Brito. Seu neto mais velho é Almerindo, 82 anos de idade, que mora ao lado da Igreja construída por Juvenata de Brito, avó de Madrinha Véia.  

         Por certo Madrinha Véia contaria histórias emocionantes se ainda vivesse. Falaria sobre sua vida de mulher parteira, doutora no sertão de gado brabo. Mulher de coragem. Neta de Juvenata de Brito, que doou vastas extensões de terras para a Comunidade Nossa Senhora da Conceição para garantir lugar de moradia e água para os seus.

           É preciso tempo para falar de Madrinha Véia. Tempo para saber das mulheres mães de meninos e meninas “aparados” por ela. Tempo para conhecer seus “filhos de leite, filhos de umbigo”, conhecer suas dezenas de Comadres.

           Madrinha Véia era uma veiazinha tão asseadinha! Usava o cabelo enrolado. Antigamente as mulheres não cortavam os cabelos; eram uns cabelão! A gente tinha o costume de visitá-la na sexta-feira para Ela nos abençoar. Ela tinha filhos demais. Filhos de leite, filhos de umbigo. Ela cortava os umbigos dos meninos. Ficou viúva cedo. Morava com a filha Guiomara, que também era viúva, lembra Emília Rodrigues.

          Almerindo hoje com 82 anos de idade, lembra da Avó, emocionado. Ele conta que Ela gostava de pescar, pegava três iscas e ia para a Lagoa Bom Sucesso, pegava três traíras e dava para a filha Guiomara preparar para  o almoço. A Lagoa Bom Sucesso tinha peixe, ajudou o povão com peixe. Ele diz, que para comer carne de boi era preciso carabina para atirar no boi. Eram bois brabos criados nas matas. Daqui até na beira do Rio Verde era só mato. E o sal que o gado conhecia era o barreiro. O gado comia barro no lugar de sal.

           Para Almerindo, Madrinha Véia foi a Doutora daqui. Ela socorria as mulheres na parte das crianças. Êta mulher de coragem! Mulher forte. Tinha um destino bom. Só teve uma mulher que morreu de parto. Todas as outras pariam de manhã e de tarde tava comendo sopa de frango. Naquela época os filhos de parteira eram mais sadios que os nascidos de médico.

            Ela morreu animada. Ela falava que não ira morrer agora não. Ela olhava numa manilha d´água da estrada de ferro e via suas duas orelhas. Um ano depois Ela chegou na água e enxergou uma orelha só e falou: ___Eh, dessa vez Eu vou! 
           Um ano depois ela morreu. Morreu de idade avançada.

            Madrinha Véia era morena, uma espécie de índia, cabelo bão, corrido. O marido dela morreu na beira de uma cisterna.

            Graça, irmã de Almerindo lembra de que quando foi para São Paulo Madrinha Véia lhe pediu para ela voltar logo. “Nessa ida minha Ela morreu. Era amiga de todo mundo!

            Maria de Jesus Rodrigues Ferreira, a Tia Zú da Escola Infantil aqui na Comunidade de Caçarema diz recordar que sua avó Madrinha Véia era pessoa muito considerada por todo mundo. Uma parteira muito boa na Comunidade. Quando alguém sentia a dor do parto, mandava chamá-la. Quando Ela pegava os meninos, as mães a tratavam por comadre.

             Emília Rodrigues Filha lembra que a avó Jovita era muito sadia. Quando morria uma criança era o maior sentimento para Ela. Madrinha Véia dizia, que antes morrer a criança que a Mãe, porque aquela mulher tinha mais filhos para cuidar. Madrinha Véia adorava a natureza, pescar. Quando a chamávamos para ir embora, dizia: __quero ficar mais um pouco!  E ficava olhando o Rio Quem-Quem!

          Emília Rodrigues Silva lembra também, que Madrinha Véia não gostava que os meninos matassem os passarinhos. Ela ficava nervosa!  Ela era sossegada. Preferia ficar sozinha pescando, dizia que sua vida era sofrida e boa. Passou muitas dificuldades. Cuidou dos filhos sozinha. Ficou viúva jovem, acrescentou Emília com pressa, pois alguém a chamava enquanto falava da Avó.

            Madrinha Véia  não media esforço para ser solidária com outras Mulheres no momento em que essas se viam Mães. Era o momento do corte do umbigo, do rompimento do laço biológico da Mãe com a sua Cria. Um momento de rompimento e de começo de outro laço: o eterno laço da maternidade, que não se encontra palavras que o explique. 

            Salve, salve Madrinha Véia, mãe de meninos e meninas que nasceram nessa terra de boi brabo! Jovita, mulher que se harmonizava com a Mãe Natureza, em nome da qual homenagea-se  as mulheres-mães da nossa pequena Comunidade.

 
               Terezinha Souto em Aqui Onde Eu Moro 13 de maio de 2012.                
                                                           


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